sábado, 13 de outubro de 2007

"Die Hard" (1988)


"Die Hard" é, a considerarmos apenas filmes de acção puros, o melhor exemplar jamais feito em toda a história do cinema. E não sou um amnéisco habitual que considera que antes de 1980, não há filmes de acção. Claro que há. Vejam "The wages of fear", de Henri Georges-Clouzot, e saberão do que falo. No entanto, a obra seminal de John McTiernan é quase um manual de como fazer uma fita cheia de adrenalina bem esgalhada, com tudo o que de bom e de melhor pode ter um filme de acção.
Para quem vive no planeta Urano e nunca viu "Die Hard", a história é simples: um polícia nova-iorquino, John McLane, resolve arredar o seu orgulho por uns idas e decide viajar até Los Angeles, numa tentativa de se reconciliar com a mulher, que o abandonou para ir trabalhar numa multinacional. Isto tudo na época de Natal. No entanto, a coisa descamba: a sede da multinacional é ocupada por aquilo que são aparentemente terroristas, liderados por Hans Gruber, e, como em tantos exemplares do género, só um homem pode salvar a situação.
McTiernan podia ter feito uma coisa igual a tantas outras, mas evita as armadilhas do cinema de acção brutalista da década de 80 e subverte a situação. Em primeiro, o nosso herói não é indestrutível: McLane, interpretado com grande classe por Bruce Willis, é um homem normal apanhado em circunstâncias anormais, numa daquelas festas de Natal que o próprio Pai Natal gostaria de experimentar de vez em quando para desanuviar; e para mais, é apanhado desprevenido e descalço, de maneira que passa o filme inteiro a combater um fando de facínoras sem calçado. O resultado? Nota-se que ele combateu um bando interio de facínoras.
Segundo, a perspectiva do vilão é absoilutamente diferente do normal. Hans Gruber, num show à parte dado pelo grande Alan Rickman, não é bronco, nem saloio: é um tipo refinado, que nunca chegamos a odiar por completo, porque é de uma coolness e fleuma admiráveis. Mesmo os seus actos desprezíveis vêm embrulhados de tal maneira que parecem chupar-nos o nosso sentido de moral. McTiernan, aliás, faz questrão de colocar vilões broncos e saloios para que melhor apreciemos o contraste entre os dois estilos.
Depois, tem um tom de sátira à própria actuação policial, simbolizada nas forças policias que querem aplicar a brutidade à viva força, apenas para seguirem o plano dos vilões sem o saberem. Mesmo quando John McLane lhes chama a atenção. Desde a estupidez crónica do chefe de polícia à sede cega de sangue, explosões e violência do FBI (num apontamento de auto-paródia que McTiernan viria a desenvolver numa das obras-primas ignoradas da década de 90, "The last action hero"), as forças da ordem são ridicularizadas e a única redenção chega através de um polícia que faz tudo a contra-gosto, com métodos pouco ortodoxos, mas que resultam.
E o resto? O resto são cenas de acção de alto quilate, um ou outro comic relief, umas das melhores utilizaçoes do último andamento da 9ª Sinfonia de Beethoven e uma frase para a história: "Yippee-kay-ay, motherfucker!"

Um raro filme que tem uma sequela melhor que o orignal (o terceiro capítulo é absolutamente extraordinário e expande definitivamente o conceito "Die Hard") e com remakes à bruta que nunca igualaram o original.

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