domingo, 30 de setembro de 2007

"Universal soldier" (1992)


Falar de Jean-Claude Van Damme é penetrar num território de lendas de onde dificilmente se sairá incólume. "The muscles from brussels", epíteto pelo qual ficará para sempre conhecido este baixote belga, mas com cabedal suficiente para enfaixar três polícias contra um poste, passeia-se hoje em dia pelo degredo dos reality shows, e os problemas que teve em meados da década de 90, nomeadamente com drogas, abusos da mulher e o diagnóstico de doença bipolar não nos podem fazer esquecer toda uma obra. O que separa Van Damme de outros quejandos é a sua crença pura de que se podia tornar um actor sério. Enquanto que boa parte dos senhores da série B de acção sabem que o máximo a que podem almejar é uma salva de palmas dos amantes da pancada de criar bicho, Van damme levou-se a sério; e assim, seriamente, tornou-se num dos maiores canastrões da década.
Van Damme é, na realidade, um artista: foi campeão de kick-boxing e é autor de aforismos vários sobre a vida, na forma de pensamentos abstractos e pistas de como ser feliz. A sua receita? O conhecimento de si mesmo. A partir daí, é sempre a abrir. De facto, os seus personagens têm normalmente essa noção, principalmente quando sabem que se forem dar com um taco de basebol numa rótula, o mais provável é esta se fracturar. Na realidade, Van Damme conhecia-se tão bem que perdeu a oportunidade de entrar nesse grande clássico que é "Predador": insatisfeito com a forma como era tratado, e visto que ninguém o depsedia, lesionou um dos duplos propositadamente para ser despedido. Belo. Ainda teve tempo para ganhar um prémio de "Pior revelação", nos Razzies, pelo filme "Bloddsport", o que também é belo.
Destacar-lhe uma obra, como noutros grandes ícones, é complicado. Mas um filme charneira na carreira de João Cláudio é indubitavelmente "Universal soldier", que merece ser aqui também destacado porque é o encontro do belga com outro gigante, literalmente falando, da representação bruta, outra vez literal: Dolph Lundgren, o sueco que em Rocky IV era russo e neste filme é um norte-americano, morto no Vietname por Van Damme, não sem antes matar o personagem do belga, Devereaux (perante a ineficácia de Van Damme disfarçar o próprio sotaque, os seus personagens eram invariavelmente francófonos). Os corpos de Devereaux e Scott, o personagem de Lundgren, são transformados em ciborgues, juntamente com outros camaradas. São soldados universais, máquinas de matar sem consciência. precisamente o sonho de uma ou outra potência mundial que eu cá sei. Quando uma jornalista mete o bedelho no assunto, a coisa vira toda. E não é que, apesar de mortos, Devereaux e Scott ainda se lembram da sua rixa passada? E que Van Damme é o bonzinho? E que a jornbalista se apaixona por um ciborgue? isto é acção chunga + série B pura, dois filmes pelo preço de um. Quem disse que Tarantino e Rodriguez são assim tão inovadores no conceito de Grindhouse?

Um filme que provocou um remake na carreira de Van Damme, remake esse que acabou quando estreou a sequela e foi um fracasso.

E como é moda nos filmes de acção de início da década de 90, o tema principal era uma metalada. Aqui, cortesia dos Megadeth.

Um comentário:

Anônimo disse...

Nunca vi o filme, mas a Crush 'Em é certamente uma das piores músicas dos Megadeth ...

Let me introduce myself I'm a social disease
I've come for your wealth leave you on your knees
No time for feeling sorry, I got here on my own
I won't ask for mercy, I choose to walk alone